quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dia 03 - Jujuy - Tilcara - Jujuy - San Pedro de Atacama - 670 km

Hoje ao acordar me convenci de que de fato existe vida após a morte! Depois de estar feito morto-vivo ontem, acordei novo e pronto pro embate. Uma noite de sono faz milagres!!!

Mas vamos começar do começo. Ontem o dia deveria ser um dos mais lights A previsão era rodar uns 500 km por terreno conhecido, já que eu já tinha passado pela mesma rota 3 anos atrás. Ou seja, passeio no parque. Mas não foi bem assim...

Como o dia era tranquilo, resolvemos dormir um pouco mais, fomos para o café as 7h, e saímos as 8h. Como comentei, tá rolando problema de abastecimento de gasolina na Argentina. (aliás, uma coisa nos chama a atenção: antes de vir, recebemos informação de que estava tendo este problema com combustível por aqui. Revirei a Internet e não achei NADA sobre o tema. Aí fica a dúvida: como é possível que um problema desta magnitude esteja ocorrendo e a imprensa não fale nada a respeito? Controle? Descaso? Indiferença? Confesso que permanecemos com esta pulga atrás da orelha...). Mas bem ou mal, até então, sempre tínhamos encontrado combustível. Pois bem, na frente do hotel tinha um posto com fila permanente para abastecer de umas tres quadras desde a noite anterior. Quando saimos do hotel, entramos na fila. Solzão de rachar, calorão, olhamos um pra cara do outro e fizemos as contas: as Adventure (minha e do Edu) ainda tinham combustível pra uns 250 km. A 1150 do Montanha, que é a de menor autonomia, ainda roda uns 130 km... Então banana pra essa fila e vamos em frente! Abastecemos pelo caminho. Pensa numa decisão equivocada....

Tocamos rumo a Quebrada de Humahuaca, uma região de montanhas espetaculares, com cores e tonalidades únicas, um pouco ao Norte de Jujuy, onde estávamos. E fomos procurando gasolina, e nada de achar gasolina. Nosso roteiro previa não chegar a Tilcara, uma vez que, em tese, passaríamos por lá na volta. Mas ao chegar no entroncamento para a fronteira/paso de jama, continuávamos sem gasolina. E entrando para o paso de jama, o próximo posto seria em Susques, quase 200 km mais pra frente. Tilcara estava a 22 KM. Deixamos o Montanha na espera pra economizar gasolina e lá fomos eu e Edu pra Tilcara. Lá tinha um posto com certeza, mas a questão era saber se tinha gasolina. Pois é... não tinha! Bom, pra resumir a ópera, nós VOLTAMOS a Jujuy, para o MESMO POSTO na frente do hotel! 160 km rodados a toa e mais de 3 horas jogadas no lixo. Esse atraso iria cobrar um preço alto mais pra frente...

Motos devidamente abastecidas, lá fomos nós para Susques. Mais uma vez, cruzamos muita gente de moto pelo caminho. Almoçamos por lá em um restaurante bacana que abriu recentemente. No mesmo local abastecemos (felizmente tinha gasolina) e saímos para o Paso de Jama já por volta das 15h. Nessa época o calor é muito intenso e não raro rolam tempestades fortes no final do dia. O trajeto de Susques até San Pedro é de cerca de 100 km até o Paso de Jama, ainda em território Argentino, e uns 200 km de Jama até San Pedro, aí já em território chileno pelo deserto do Atacama. O trecho de Susques até o Paso também tem características de deserto, mas não se parece em nada com o Atacaama (o deserto mais seco do mundo), porque pegamos uma tempestade de arrepiar o pelo da nuca. Entramos na estrada e percebemos que estávamos rodando entre dois focos de tempestade muito fortes. Dá pra dizer que havia uma beleza assustadora nas tempestades, porque víamos cum muita clareza raios imressionantes caindo à esquerda, à direita e à frente. E não deu outra: avançamos pra dentro do temporal. Muita água e muito vento, as motos rodando inclinadas pra compensar e ventania. E quando cruzávamos caminhões, tinha que rolar um certo malabarismo pra dar conta da turbulência gerada. Pra piorar, a memória que eu tinha deste trecho era de muito calor. Então, ainda que entrando na tempestade, só joguei a capa de chuva por cima da jaqueta sem maiores preocupações com frio. Outra decisão estupidamente errada... Passei um frio congelante, a temperatura baixou pra 5 graus e, no meio daquele aguaçeiro, parar para tentar colocar balaclava ou forro de jaqueta era fora de cogitação. Resultado: cheguei em Jama parecendo um pinto encolhido (sem trocadilhos...), tremendo de frio e com o esqueleto já a caminho do esgotamento. Edu e Montanha estavam de balaclavas e com roupas um pouco mais quentes, e sofreram um pouco menos o efeito do frio.

No Paso de Jama, perdemos uns 45 minutos naquele ritual insano de fazer imigração, Ainda tinha um onibus de turismo na nossa frente com um guia que encaminhava pilhas de passaporte com notas de pesos entre eles pra agilizar o processo, o que tornou nossa estada no posto de fronteira um martírio.

Uma vez finalizado o trâmite, voltamos pras motos pra entrar no Atacama. E agora, eu tinha CERTEZA que ia esquentar. Então tomei a heróica (e estúpida) decisão de não colocar mais roupa e continuar como estava, afinal, logo a gente ia entrar no deserto. E de fato entramos! Só que num deserto onde as estradas ficam o tempo todo entre 4.500 e 4.800 metros de altitude e, novamente, a temperatura oscilou quase que o tempo todo entre 5 e 8 graus. Frio, frio, friiiiiiiiiiiiiiiio. E o mais impressionante, uns 30 km antes de San Pedro estávamos a 4.800m de altitude a exatos 5 graus. 20 km depois, estávamos a menos de 2.500m e a 30 graus!!!!! Ou seja, nada no dia de hoje foi moleza. E como sempre, quando isso acontece, achamos ÓTIMO. Afinal, se era pra ficar no ar condicionado, melhor ficar em Curitiba, certo? :-)

Aduana em San Pedro, guardinhas de um mau humor notável e ainda faltava achar hotel! Mas demos sorte e encontramos lugar no Hotel Terracota, um hotelzinho pequeno e simples, mas bem honesto.

Na chegada comentei com Edu e Montanha para nivelarem suas expectativas quanto a San Pedro de Atacama. Na primeira vez que estive aqui, registrei no blog que minha primeira impressão da cidade tinha sido bastante negativa. Isso acontece porque existe uma certa aura que ronda San Pedro que até é justificada, mas não pela aparência da cidade no primeiro contato. É uma cidadezinha minúscula, com ruas de terra batida e construções de barro e terracota pra todos os lados. Mas é exatamente nesta espécie de excentricidade que está o charme da cidade.

Agora pela manhã os dois foram ao Vale da Lua pra conhecer. Como já estive lá, optei por ficar no hotel e atiualizar o blog (além de dar uma folga a mais pro esqueleto).

Pra fechar o dia, apenas uma menção sobre a velha história de sempre. O dia ontem foi terrível! Frio, tempestade, horas e horas acima dos 4.500 m de altitude com dificuldade pra respirar. E no final do dia, apesar do cansaço e do esgotamente físico, a cabeça parecia flutuar de tão leve e o sorriso infantil no meu rosto, no rosto do Edu e no rosto do Montanha eram indisfarçáveis. Não sabemos ao certo o que leva a isso. Mas temos certeza que só quem compartilha do gosto por este tipo de viagem consegue compreender. Difícil explicar? certamente! Conversa de maluco? talvez! Mas, de alguma forma, fonte de um prazer indescritível!!!!!!

E agora, vamos ao que interessa: FOTOS!

Sol Nascendo em Jujuy


Quebrada de Humahuaca










Paleta del Pintor - Nome dado a esta formação pela diversidade de cores na montanha

Paleta del Pintor




Cara de mau.....





Começando a subir pros 4.500








Essa vai pro porta-retrato









Auto-retrato...
Auto-retrato não deu certo... Montanha foi ajudar...
E no fim, nem Montanha ajudando funcionou... o modelo era terrível... e ficou tão deprimido que quis se jogar ribanceira abaixo... deu um trabalho dos infernos pra segurar....




E tem gente que diz que a gente é maluco de fazer isso tudo de moto... Macho mesmo é o cara que faz de bike!



Achamos que a 4.170m já estava alto... Mais pra frente, rodamos tempo acima de 4.800m!




Salinas Grandes - Argentina. Quando passei por aqui a primeira vez dava pra rodar nas Salinas. Dessa vez, estava tudo alagado. O lado bom é que o efeito do céu refletido na lâmina de água fica ainda mais impressionante.



É um flamingo? É uma siriema? É uma saracura? Não, é o Montanha fazendo pose...




Picos nevadas foram constantes acima dos 4.500m de altitude
Na "porta" do Atacama


3 comentários:

Alexander Burbello disse...

Ficar de pé com a moto andando ... é assim que cai pro acostamento, né?!?! hahahaha
Fotos incríveis, hein!!
Abraços e seguimos acompanhando.

Alê Serra - mãe da Manu disse...

OLáa...que legal essa viagem!!! As fotos são maravilhosas, que lugar lindo! Que aventura heim....abraços.

MarceloOver disse...

Pqp que tesao.Show Abs